segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O Quociente e a Incógnita




"Às folhas tantas do livro de matemática,um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita.


Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base.Uma figura ímpar olhos rombóides, boca trapezóide,corpo ortogonal, seios esferóides.

Fez da sua uma vida paralela a dela até que se encontraram no infinito.


"Quem és tu?" - indagou ele com ânsia radical.


"Eu sou a soma dos quadrados dos catetos, mas pode me chamar de hipotenusa".


E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética,corresponde a almas irmãs, primos entre-si.

E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luznuma sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas,curvas, círculos e linhas senoidais.


Nos jardins da quarta dimensão,escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do universo finito.Romperam convenções Newtonianas e Pitagóricas e, enfim,resolveram se casar, constituir um lar mais que um lar,uma perpendicular.


Convidaram os padrinhos:o poliedro e a bissetriz, e fizeram os planos, equações e diagramas para o futuro,sonhando com uma felicicdade integral e diferencial.E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.


Foi então que surgiu o máximo divisor comum,frequentador de círculos concêntricos viciosos,ofereceu-lhe,a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.

Ele, quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.Era o triângulo tanto chamado amoroso desse problema,ele era a fração mais ordinária.


Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade,como,aliás, em qualquer Sociedade ..."Millôr Fernandes